Oi! Meu nome é Adriano Trotta, tenho 26 anos, nasci e cresci em São Paulo - SP, onde moro. Sou mais um coadjuvante neste time de blogueiros de primeira.
Como todo bom paulistano, acho que meu sotaque é a ausência de sotaque. Sim, eu sei, EXISTE um sotaque de paulista, enrolando a língua pra falar o R e comendo o S no final das palavras, mas eu fujo muito desse sotaque, assim como procuro evitar usar gírias só de paulista, como "meu", "mina", etc. Nem sempre eu consigo!
Faço isso não porque não gosto da minha cidade, nem porque quero esconder minha procedência, nada disso. Meus motivos são dois muito simples:
1º) Eu estou estudando para ser dublador, e dublador não pode ter sotaque característico de lugar nenhum ("voz de apresentador de telejornal"?);
2º) Não gosto de rótulos, acho que rótulos são pré-conceitos, e procuro me afastar de ambos, mesmo que o rótulo em questão seja minha naturalidade.
Acredito que meu maior sotaque não esteja na minha maneira de falar ou de escrever, mas sim na minha maneira paulista e paulistana de viver e ver a vida. E isso sim eu admito, gosto, e nem tenho como fugir. Assim como cada participante deste blog tem a sua maneira específica de vivenciar as coisas, eu também tenho minha maneira toda especial, forjada por essa enorme e caótica cidade em que vivo. E acredito que observar o contraste entre essas diferentes visões vai ser o mais interessante neste blog, mais do que apenas observar as diferentes formas de escrita.
Então como é esse meu "sotaque de vida"? Talvez por gostar de desenhar desde os 6 anos de idade, eu tenha desenvolvido o gosto pela observação. Tenho por hábito passar incógnito pela multidão, apenas observando tudo e todos ao meu redor. Adoro. Em que melhor cidade isso seria possível, senão na cidade mais cosmopolita do Brasil? Pra isso, São Paulo é incrível. Por isso, viver aqui é ser o espectador de uma coleção de poesias, acontecendo diante dos seus olhos, nos fatos cotidianos que te cercam.
O metrô, por exemplo, é algo que adoro. Observar as pessoas bem vestidas e cheirosas de manhã, se espremerem na multidão do vagão enquanto procuram não desmanchar o penteado ou amarrotar a roupa. De noite, na volta pra casa, reencontrar a mesma garota que você viu de manhã, agora com o semblante cansado, o cabelo levemente despenteado e a roupa devidamente amarrotada, lutando contra o sono — e perdendo, afinal — para não dormir sentada. Não sei você, mas eu acho mágico. E os bêbados? Os meus favoritos são os pregadores mais raivosos, que filosófam sobre deus, a vida e a morte! Sem dúvida, aprendi muito com eles.
Nas ruas, quase sempre vejo alguém chorando, disfarçadamente. Mesmo os momentos tristes são bonitos por aqui: o olhar preocupado tentando se esconder no meio da multidão, para chorar baixinho e em paz. Paz? Não há paz em São Paulo. Eu percebo o choro, mas não finjo que não vi, pelo contrário... mando meu melhor olhar de "não se preocupe, tudo vai ficar bem", e sorrio. Geralmente, é o máximo que alguém como eu pode participar da vida de outro alguém, desconhecido, no meio da pressa e da correria dessa cidade que não pára.
Mas, na maioria das vezes, permaneço escondido, não participo. Muitas vezes me perco tanto observando as pessoas que esbarro em uma ou outra, quase sou atropelado por elas. Tudo bem. De tanto observar, acho que fico invisível. Tenho nítida impressão de que, sem querer, desenvolvi esta técnica. Melhor assim, não quero influenciar em nada o show da vida que acontece à minha volta.
Show. Essa é a palavra. Estou em cena, mas permaneço calado, observando, assistindo.
Em que outra cidade do mundo é possível isso? Ver, ao mesmo tempo, executivos riquíssimos passando em carros blindados, sem olhar para os lados, e logo depois uma pobre criança, simples, enfrentando descalço e sozinho a forte chuva na rua, do alto de seus 6 ou 7 anos, aplaudindo o ônibus em que você está, apenas porque aquele enorme veículo está passando por ele e fazendo barulho.
Obrigado pelos aplausos, garoto. Este méro coadjuvante, no show de São Paulo, agradece.